Reflexões inanimadas sobre a Tortura - PARTE 5


Proposito

- Porque você Esta me contando isso? - Perguntou o visitante misterioso.
- Não faço ideia - Respondeu Maate - Faz tantos anos que ninguém aparece aqui e de repente você adentra esse local, ignorando completamente meu poder. Não és um objeto, nem mesmo um humano, você é algo completamente diferente de tudo que já vi, não consigo sentir a tua consciência... É diferente, é maior... Não, é imensurável, complexa e...
- Se continuar bisbilhotando minha... “Mente?” - O Ser pausou e ponderou a palavra que escolhera - Sim! Essa palavra se adéqua neste planeta... Se continuar investigando a minha mente, você ficará presa pela eternidade, ninguém esta preparado para vislumbrar meu tempo.
- Sou poderosa, não possuo um espirito, nem carne, sou uma deusa - Pura confiança - será que não consigo suportar o seu... Tempo?
- Certamente és poderosa, não és de carne, mas sim, possui espirito, pois sua consciência é reflexo disso, mas não é como o dos humanos, é diferente, único, nem mesmo eu vi algo assim, é por isso que ainda sou avido a vasculhar toda a plenitude dos universos... - O Ser sumiu por por um tempo ínfimo, e logo retornou para concluir seu pensamento - As guerras desse planeta são um desperdício para espíritos que vivem aqui. - Acrescentou e retomou - Por ultimo, você não é uma deusa, apenas te falaram isso, talvez seja a primeira de um novo segmento de entidades... Os humanos não tem mesmo ideia do que são capazes.
- Você fala com propriedade e experiência, o que você é?
- Eu? Não existe palavras para explicar o que eu sou, em nenhuma das infinitas linguagens faladas por deuses, titãs, nações, mortais ou imortais. - As vestes negras da entidade se moviam como se estivessem vivas e foram cobrindo todo o comodo. - Mas talvez eu possa tentar.


Tudo ficou negro, mas não como a noite, nem como um sono sem sonhos, ficou negro como se a existência não significasse mais nada. Eles não estavam em um local físico, onde não havia temperatura, vagavam pelo infinito, pelo silêncio absoluto.

- É assustador, não a controle, não da para saber se estamos num local imenso ou apertado, nem se a chão ou teto, não existe vida, não existe nada.Você por acaso... Você é o medo! Eu sinto medo nesse lugar, sei disso porque plantei o medo em muita gente.
- Isso me fez lembrar - O Ser mudou de assunto - o que você fez?
- Sobre o que?
- Depois de torturar o guerrilheiro? Em relação a Carmem.
- Ah, verdade, eu não terminei! Nada demais, eu fiz o que tinha de ser feito, a minha função, o que fui designada, obtive respostas, não importa o quanto doeu. Ela chorou demais, eu demorei a reagir, foi espancada e afogada, depois ela me reconheceu, mas não acreditou, achou apenas ser uma coincidência, fiz ela falar de uma vez, cumpri o meu dever, o que eu podia fazer?
- Mas você não se considerava uma deusa?
- Naquele tempo não, naquele tempo eu só conhecia servir, pois os objetos tem esse proposito. Só depois eu realizei, eu percebi o quão maior eu era, maior do que qualquer coisa aqui, e o quanto eu era assustadora para aqueles que não entendiam, eles tentaram me parar, tentaram me explodir, mas perderam mãos, tentaram me queimar, mas perderam a pele, tentaram me enganar, eu os controlei, eles eram tão pequenos, se achavam tão grandes não demorou muito para que eles se matassem por minha causa, então eu simplesmente me cansei, afastei todos daqui e os afasto até hoje, ainda tenho medo do que posso fazer.
- Você tem medo de mudar, você tem medo de escolher, você mente para si, achando que superou seu tempo como algo inanimado, mas não superou - O Ser foi categórico, sem hesitar - é por isso que você não é nada, pois do que adianta ter essas qualidades sem que você acredite nelas.
- Então é assim que você lida com seu poder do Medo?
- Porque você acha que meu poder é o medo? Como eu disse, não ha como eu expressar meu significado, sempre haverão inúmeros entendimentos para “O que eu sou?”
- Então me diga, o que você significa para esse planeta?
- Morte. Mas em outros lugares pode ser recomeço, passagem, vazio, desespero, medo, horror, felicidade.
- Você é tanta coisa, invejo isso.
- Eu sou isso tudo, mas desde sempre eu fui assim, pois minha existência é esta além do eterno, meu fim não existe e meu começo eu não sei, são minhas únicas duvidas, que em nada me ... como vocês falam aqui?...Afligem. Em nada me afligem.
- Então, se você é tudo isso, me diga, por favor, o que EU sou?
- Maate... Você pode ser e fazer o que bem entender, pois diferente de mim, você transcendeu seu proposito, foi mais longe do que os humanos que te criaram e pode ir mais longe ainda, é só escolher a trilha a seguir, cadeira ou deusa, a escolha é sua.


Maate estava só no decrepito porão, A Morte sumiu e não voltaria mais, agora era apenas sua consciência expandida, e sucata, objetos quebrados, consumidos pelo tempo, O Afogador e O Pau-de-Arara eram apenas acumuladores de sujeira e ferrugem, o Gancho quebrou, a corrente não estava mais lá, nem o armário ou a escrivaninha, apenas A Grade, estava em silêncio, pois testemunhou toda a conversa.


Maate continuava vestida de armadura, impecável, pois nada que a afetasse chegava perto, morando em um porão escuro, num casarão abandonado, incrustado entre centenas de prédios, pois qualquer um que chegasse perto era influenciado a sair e esquecer o que foi fazer naquele lugar. Maate estava no centro de uma cidade cheia de pessoas, que não fazem ideia da existência da deusa da Verdade.

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